quarta-feira, 17 de novembro de 2010

VINHOS VERDES - A ERA MADURA DA MODERNIDADE

O vinho verde é um velho conhecido dos apreciadores de vinho no mundo todo. Aprendemos a gostar de sua natureza franca, que oferece tipicidade própria de um vinho leve e aromático, condimentado com incisivo toque acídulo e uma natureza discretamente frisantina, que marcavam sua presença inconfundível ao pinicar nossa boca.

O vinho não tem predominantemente a cor verde. Sua característica tradicional de vinho para ser tomado dentro de um prazo curto após a elaboração poderia até sugerir tratar-se de vinho verde em contraposição ao vinho maduro. Esta versão não é apoiada pelos minhotos. A terra dos vinhos verdes é a região do Minho e do Entre Douro, na parte noroeste de Portugal. Vista do alto mostra um enorme manto de vegetação verde que escorrega desde as encostas das serras mais a leste, espraia-se pelos vales interiores, prolonga-se pelas planícies, estendendo-se por fim até as margens do Atlântico. Dizem alguns que desta monocromia verde veio o nome do vinho.

O vinho verde que muito se consumiu nos verões quentes brasileiros na década de 1970, era via de regra um Casal Garcia, um Calamares ou um Gatão, branco e frisantino, vez por outra tinto. O vinho verde tinto permaneceu regalo de certas áreas minhotas. Mas as coisas vem mudando radicalmente nos anos recentes.



Dentre as 65 castas tradicionais, vêm ocorrendo estudos de seleção de castas e trabalhos de especialistas para conferir um perfil moderno aos vinhos verdes, destacando-se o desenvolvimento clonal das brancas Loureiro e Trajadura, e das tintas Borraçal e Vinhão.

No seio das mais de cem mil pequenas propriedades vinícolas, a modernidade vem avançando e as formas de condução das videiras se alterando para garantir níveis maiores de qualidade. Com uvas superiores, a vinicultura minhota tem trabalhado para manter os predicados da fruta através da alteração de aspectos tradicionais de processamento.

Um dos pontos-chave foi a exclusão da fermentação malolática na garrafa tornando os vinhos verdes tranqüilos que, apesar disso, mantêm o caráter picante na boca por conta da acidez saliente que caracteriza as uvas daqueles terroirs. Para os rótulos mais populares pode ser acrescentado gás carbônico para gerar aquele aspecto de frisantino.

A troca dos lagares rústicos por instalações em aço inoxidável, com controle de temperatura de fermentação abaixo de 20°C, alonga o tempo desta fase por até quatro semanas, promovendo extração lenta e mais intensa dos aromáticos, protegidos depois pela prevenção da fermentação malolática. O resultado final são vinhos verdes frescos e com forte presença dos aromas originais da fruta. Coroando os esforços, vem a maior estrutura decorrente de teores alcoólicos mais elevados, com o quê podem ser guardados por até nove anos, a depender do vinho.

Dentro desta nova roupagem dos vinhos verdes, devem ser apreciados, no mínimo, Santa Eulália – Azal e Arinto (Casa de Santa Eulália), 11.5%; Condes de Barcelos – Trajadura, Arinto e Loureiro (Adega Barcelos), 11%; Casal do Paço Padreiro – Loureiro (Afros), 11%; Deu la Deu – Alvarinho (Adega Monção), 11%; Quinta da Aveleda – Arinto, Trajadura e Loureiro (Aveleda), 11.5% e um Follies – Trajadura e Loureiro (Aveleda), 11.5%.

Vinho verde moderno é, portanto, um vinho encorpado e caracteristicamente picante. Vale a pena degustar os vinhos verdes que amadureceram para a modernidade!

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