terça-feira, 18 de janeiro de 2011

VINHO: A UNIÃO SEMPRE FAZ A FORÇA...QUANDO SE TEM!


Se procurarmos no passado as vertentes das grandes mudanças no mundo do vinho, certamente chegaremos às décadas de 1970/1980, nas quais atuaram pessoas idealistas que se doaram em grandes contribuições, garantindo aquilo que hoje todos desfrutam.

Por se tratar de fatos do volátil cenário dos dias idos e por ter a memória via de regra as dimensões do cérebro das galinhas, as versões que ficam vão misturando pessoas de real valor com oportunistas. Estes aparecem nas fotografias das comemorações das vitórias, sem terem nunca se apresentado na horas difíceis de crises, decisões e de construções de uma realidade nova.

Philippe de Rothschild, levado pela pretensa superioridade vinícola francesa, classificou, na década de 1970, os vinhos da Califórnia como Coca-Cola pois, segundo ele, todos tinham o mesmo gosto. Em 1980, o Barão teve que mudar sua avaliação, diante da indiscutível qualidade dos vinhos do Novo Mundo, e anunciou sua sociedade com o californiano Robert Moldavi. A Califórnia, por seus próprios méritos e pela união de seus atores, foi a arquiteta da construção do Novo Mundo vinícola e o Barão teve que correr atrás para reparar o erro do seu preconceito!

Do outro lado do mundo, na Nova Zelândia, a vinicultura vivia sob o incômodo predomínio da híbrida americana Isabel, presente na maior parte de seus vinhedos. Almejando o patamar dos bons vinhos, os empresários tiveram que se unir com os órgãos do governo para planejar o futuro dos vinhos neozelandeses, hoje presença brilhante, como se conhece mundialmente.

No Uruguai, os vinhos nacionais de viníferas dominavam o comércio doméstico com baixa qualidade. Diante da anunciada abertura do mercado, os grandes vitivinicultores e o governo compuseram-se em torno das avaliações e recomendações de especialistas californianos para desenvolver o emblemático vinho uruguaio Tannat, em vitoriosa empreitada.

Na Argentina, pessoas como Raul Castellani, Reina Rutini, Raul Arizu, Eduardo Baldini e outros heróis da modernidade, traçaram as bases da mudança do vinho argentino a partir da década de 1980. Uma corrente unida de pensamentos e de ações foi tirando gradualmente o vinho argentino do atoleiro do império da quantidade, colocando-o em lugar de destaque no teatro da qualidade.

No Brasil, nesta mesma época, homens como Onofre Pimentel, Atílio Dal Pizzol, Luiz Valduga, Mário Geisse, Lucindo Copat, Rinaldo Dal Pizzol, Antônio Csarnobay, Toninho Salton e outros tantos, empreenderam ações para mudanças, num movimento que permitiu ao vinho brasileiro timidamente levantar vôo rumo à qualidade mundial, situação sentida definitivamente na metade final da década de 1990.

Enquanto isso, outros fizeram a escola negativista e deformaram a visão de seus seguidores trabalhando pela desunião e pelo confronto das partes baseado na fogueira das vaidades. Foi o que comentou o jornalista gaúcho Ucha, no seu blog cordeiroevinhobyucha.blogspot.com (Confraria do Sagu) do dia 23/12/2010, sobre mais uma desunião no setor do vinho brasileiro, texto do qual transcrevo um trecho:

“Um dos aspectos que mais prejudicaram a vitivinicultura gaúcha foram as brigas e disputas interegionais e até intervicinais que existiam nos anos 50, 60, 70 e 80 do século passado na região produtora italiana. Hoje, quando o vinho brasileiro (gaúcho) ganha os mercados nacionais e internacionais, pelo aumento de qualidade, e as exportações de vinhos não são mais apenas um sonho, acreditava-se que o passado de desentendimentos e rivalidades estava sepultado.

Parece que não. Bento Gonçalves, que sempre teve o comando do Sindicato do Vinho (Sindivinho), um dos mais antigos do estado, vem desde 1928, perdeu, em 2007, a presidência para Cristiane Passarin, de Flores da Cunha, e não se conformou muito.

Para complicar a situação, a nova presidente transferiu o sindicato para Caxias do Sul, aumentando o desgosto dos bentogonçalvenses. Agora, o pessoal de Bento fez um movimento para retomar o comando do Sindivinho e perdeu a eleição, novamente para Cristiane. Em 2007, havia duas chapas, que acabaram entrando em consenso em favor de Cristiane. Hoje, não. Resultado: os industriais do vinho de Bento Gonçalves estão criando um novo sindicato da indústria do vinho. Mais um. Marcos Valduga, da Dom Cândido, comanda a dissidência.”

Na contramão da história segue o vinho brasileiro tentando exportar quando não atende minimamente o mercado doméstico, vendendo ilusória união quando vive novas dissidências.

Quando, quando vamos ver um corpo unido e consistente chamado vinho brasileiro?







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