terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

E A MULHER DESCOBRIU O VINHO...


O que aconteceu em primeiro lugar, a viticultura ou a vinicultura?

Não parece exagerado imaginar que a viticultura somente teve lugar depois que o vinho foi descoberto, criando razões muito fortes para trazer as videiras para bem próximo das casas.

No Neolítico desenvolveram-se a tecelagem, a produção de instrumentos de pedra polida e a cerâmica.

A manufatura de peças cerâmicas como jarros e vasilhas descortinou um dia-a-dia completamente novo para estas populações fixas, proporcionando a guarda de água, de alimentos coletados nas florestas ou produzidos pelo grupo.

O nascedouro do vinho teve início com as jarras cerâmicas. A coleta de uvas nas florestas e a guarda neste vasilhame garantia ao homem a organização das despensas para elementos importantes da sua alimentação.

A bruteza dos bárbaros para apanhar uva dos jarros certamente causava o esmagamento dos cachos inferiores, dos quais escorria parte de seu suco. Este mosto ia se acumulando no fundo do jarro e a temperatura alta animava as leveduras (fermentos naturais) presentes na casca das uvas a iniciarem o processo de fermentação, transformando-o em vinho.

Por muitas vezes este caldo, misturado aos restos de cachos no fundo dos jarros, deve ter sido atirado fora para limpeza e liberação do vasilhame para a guarda de novas coletas.

Como o vinho é sonho, é deleite, imaginemos uma mulher chamada Vartanux, nome armênio feminino antiqüíssimo, cumprindo a rotina dos seus afazeres domésticos.

Num certo dia, Vartanux, desdobrava-se com os apetrechos domésticos e cuidava de preparar os jarros para receber frutas e alimentos a serem coletados nas matas. Neste dia, estava particularmente mais contemplativa que nos outros e, antes de despejar fora o líquido acumulado no fundo de um jarro, sentiu que dele emanava um aroma láctico agradável. Imediatamente lembrou-se do cheirinho que subia de seus seios durante a amamentação de suas crias. Teve despertada a curiosidade de examiná-lo e terminou por experimentá-lo. Aquela bebida fermentada e perfumada, ofereceu boca agradável e lhe trouxe um estado de alegria diferente. Sentiu como que uma liberação do espírito. Os demais componentes do grupo ficaram sabendo da novidade, repetiram a experimentação e, imediatamente, aprovaram a nova bebida.

O olfato de Vartanux exerceu seu importante papel psicológico ao captar aromas de amamentação passada que suscitam viagem a essas emoções e seus sentimentos, que reavivaram imagens e ambientes distantes, evocando a vontade de provar. Esta viagem na memória é a base da degustação consciente de vinho.

Estava descoberto o vinho, mesmo que acidentalmente, por uma ou algumas das muitas Vartanux ou Marias que batalharam anonimamente através da evolução da sociedade humana!

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