segunda-feira, 27 de junho de 2011

VINHO DO PORTO – NASCE UM NÉCTAR MUNDIAL

Quando pensamos em vinhos das mais tradicionais geografias vinícolas do mundo sempre o fazemos como se elas e eles sempre tivessem existido, algo assim como atávico à nossa existência. Mas quase sempre estamos equivocados. Como parâmetro basta lembrar que a unificação da Itália ainda está longe de comemorar os 200 anos.

Balizados por essa realidade, passeamos pelas regiões de Bordeaux, Borgonha, Rioja, Montalcino, entre outras tantas, e vemos que os bons vinhos são conquistas recentes da humanidade.

Mas o que existia antes se sempre o homem se serviu do vinho para alimentar-se ou para se aquecer de corpo e alma?

Dilatando-se o período da história vamos encontrar os vinhos fortificados que, embora não cheguem aos primórdios, marcam a separação entre os primitivos vinhos de poucos predicados e os atuais vinhos de qualidade.

Um desses marcos e dos mais importantes é o Vinho do Porto.

A região produtora fica distante não menos do que cem quilômetros da cidade que lhe empresta o nome, e engloba terras das serras do Marão e de Montemuro, região que começa na fronteira com a Espanha e se estende até a cidade portuguesa de Barqueiros, sempre margeando o Douro s e de seus tributários.

Nas vertentes desses tantos rios a paisagem é homogeneamente dominada pelos vinhedos que se agarram às acentuadas encostas.

Dando um salto sobre o passado mais afastado, durante o reinado português de D. Fernando, em 1353, foi assinado acordo entre Portugal e Inglaterra que autorizava pescadores lusitanos a pescar bacalhau nas costas inglesas. Essa circulação de embarcações facilitou a introdução de vinhos do norte português, Minho, embalados em recipientes de couro ou em barris, para os consumidores ingleses através do escambo, ou seja, troca com produtos daquele país. Obviamente, a maioria dos vinhos da qualidade da época que não passariam de zurrapas na atualidade.

Nesses tempos os comerciantes ingleses faziam negócios com agentes instalados na cidade do Porto e desconheciam a região do Douro, origem dos vinhos.

Em 1678 dois filhos de um comerciante inglês de vinhos portugueses fizeram uma viagem de férias para a região do Porto, assim aproveitando para aprender mais sobre a natureza daquele produto que era importante nos negócios da família. Instalados num mosteiro da região do Douro tiveram oportunidade de provar um vinho da região que realmente foi uma novidade muito marcante. Para despachar para a Inglaterra e resistir ao tempo de viagem, fortificaram-no com um pouco de aguardente vínica portuguesa. Essa nova versão do vinho foi imediatamente aprovada pelos consumidores ingleses e se tornou um estilo exigido pelo mercado. Estava criada a versão primeira e original do Vinho do Porto, dando como idade ao estilo pouco mais de 330 anos.

A partir desse evento os séculos seguintes assistiram à redução da participação dos vinhos do Minho e o conseqüente aumento da preferência dos comerciantes para os do Douro. A porta comercial da Inglaterra sempre em expansão e abertura para novos compradores da França, Itália e Alemanha, foram consolidando o vinho do Douro.

Na altura do século XVII, por volta do ano de 1660, fez-se conhecida a primeira referência aos vinhos dourenses como Vinho do Porto.

Nessa época ocorria a deterioração das relações da Inglaterra com a França que redundou na elevação das taxas de exportação dos vinhos de Bordeaux e, como conseqüência, a resposta inglesa de boicote aos vinhos dessa origem.

Somados os fatos e eventos, aconteceu a verdadeira descoberta dos Vinhos do Porto pelos ingleses e o início da instalação e operação em ritmo crescente de escritórios ingleses na cidade do Porto. A evolução dos negócios foi tal que em 1703 os dois países celebraram o Tratado de Methuen, desonerando as taxas de importação de tecidos ingleses e vinhos portugueses.

Essas novas condições injetaram mais força de expansão na transações do Vinho do Porto, e uma forte pressão para a melhoria da qualidade, sobre uma capacidade total de produção muito aquém da procura.

A matéria prima complementar foi buscada em vinhedos implantados em locais inadequados com produção de uvas inferiores, assim como em outras regiões externas ao Douro. Para completar os fatores negativos aplicou-se a prática da colocação de elementos estranhos à uva para gerar a cor característica. Com todos esses inputs a produção elevou-se drasticamente e perdeu os encantos de sua qualidade original.

O mercado inglês, sempre controlador, fez com que os preços despencassem assustadoramente e jogasse a reputação dos vinhos em total descrédito.

Nesse inferno astral surgiu a figura do Marquês de Pombal que com seu pulso e a grande visão empreendedora, induzindo a criação da Companhia Geral da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro, através do alvará régio em setembro de 1756.

Em 1761 foi feita a demarcação dos limites da área oficial de produção, e o conjunto de vinhedos formou a primeira região vinícola oficialmente demarcada do mundo. Vejam, não chega a ter 300 anos de existência!

Mas com todas as providências tomadas a partir de então construíram e consolidaram a imagem do atual Vinho do Porto, o que nos autoriza a indicar este acontecimento e esta personalidade como as bases do nascimento deste grande néctar da enologia mundial.

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