quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

MADEIRA E A QUALIDADE DOS VINHOS

A ligação do vinho com a madeira é fato transcedental. Há milênios não havia a indústria do vidro e a fabricação em série de garrafas. Os primeiros vinhos foram transportados da Armênia ou Geórgia para os potentados da Babilônia nos ocos dos gomos de troncos de palmeiras. Com o aumento da demanda, as palmeiras não se mostraram práticas e os mercadores tiveram que se valer de grandes odres de couro.

Esta solução cedeu lugar às ânforas fenícias que foram o casco para transportar vinhos nas longas distâncias do Mediterrâneo por fenícios, gregos e romanos, entre outros.

Quando os romanos descobriram os tonéis dos gauleses e com eles aprenderam a arte da tonelaria, perceberam que grandes quantidades levadas a grandes distâncias não podiam mais ser atendidas pelas frágeis ânforas. Assim há dois mil anos deu-se o advento do uso de pipas, barricas e tonéis de madeira.

Apesar de no final do século XVII as garrafas inglesas estarem disponíveis, as barricas continuaram importantes como contenedores para transporte de grandes volumes de vinhos em longas viagens, assim como para estocagem e atendimento nos pontos de consumo. Para se ter uma idéia, não faz 100 anos que o Brasil começou a comercializar vinhos em garrafas.

Esse longo período de utilização de barraicas fez com que se revelassem predicados nos vinhos, aportados de acordo com o tipo de madeira das barricas. Com o tempo de emprego foi-se descobrindo relações diretas do conjunto de comlexidade do vinho com o tipo e o tratamento da madeira dos tonéis.

A tanoaria passou todo esse tempo mantendo suas tradições de técnicas de montagem e das formas dos tonéis. O carvalho mostrou-se o melhor companheiro do vinho. Os vinhateiros afeitos ao uso das barricas foram percebendo a utilidade de determinados tipos de carvalho para incrementar traços específicos da complexidade, da qualidade dos taninos e da longevidade dos vinho.

Estudos sobre a influência da madeira sobre o vinho foram realizaos na Unversidade de Enologia de Bordeaux (financiados pelos toneleiros do cognac em crise) e, sem a intenção clara na cabeça, mudaram completamente o rumo do uso das barricas. Deixaram de ser simplesmente cascos para assumirem o papel de participantes na fermentação e no amadurecimento do vinho.

A utilização corrente dos tonéis e a busca de novas fontes de carvalho abriram alternativas de distintas origens especialmente na França, Hungria, Eslovênia, Rússia e Estados Unidos, entre outras.

As distintas variedades de carvalho desenharam contornos específicos da ação de cada um, classificando-os em diversas qualidades de acordo com os predicados aportados ao vinho.

Após o corte da árvore as toras são deixadas para temperar ao tempo,sob chuva, sol e orvalho da noite. As toras são transformadas em pranchas que também ficam expostas às intempéries. Depois são partidas em ripas que vão ser trabalhadas pelo tanoeiro para conformar a forma que terão que assumir na barrica. O tempo de secagem e de tratamento das partes de madeira ao ar livre varia de um a quatro anos, conforme o que se quer dos tonéis.



Durante esse tempo todo oas taninos amadurecem e perdem o amargor original. Cada mestre de tanoaria segue método pessoal de tratamento da madeira.

Na montagem da barrica as ripas molhadas e aquecidas são moldadas contra uma cinta metálica circular. A barrica formada e estruturada pelas cintas metálicas passa por uma fase de tostagem das paredes internas, que tem efeito sobre a carga aromática que o carvalho vai liberar para o vinho.



A tosta é conduzida lentamente e o tempo de tosta determina as características de ação da barrica sobre o vinho em tratamento. O tanoeiro pode atender aos desejos dos clientes executando tosta fraca, média, média forte e forte, em cuja evolução aumenta os aromas que serão liberados: baunilha da madeira, torrefação, defumado e assim por diante.

Os enólogos competentes trabalham como se fossem chefs de cozinha intwernacional adicionando não mais do que pitadas calibradas dos efeitos da madeira, respeitando os níveis de tosta da barrica. Para não abafar a personalidade do vinho, preferem-se tostas menos fortes.

A passagem do vinho por barricas ocorre em quantidades insignificantes do vinho produzido mundo afora, ou seja, ao redor de 2%, devido ao alto custo das barricas e a necessidade de se ter vinho bem estruturado.

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